terça-feira, 26 de junho de 2012

Janela Velha...


Para ser lido ao som de Lô Borges - Paisagem da Janela ♫

No alto daquela sacada,
Esconde-se uma janela velha.
Os braços gastos debruçam – se sobre aquela madeira também gasta.
Para ver o sol que acena por de trás daquele monte, bem no horizonte a sua frente.
Nada é tão perfeito quanto à simplicidade das janelas velhas,
Dos braços gastos, sobre a madeira gasta.
Do acenar do sol por de trás do monte, bem ali, no horizonte.
O encanto não se perdia em meio à velhice, das lembranças deterioradas pelo passar dos dias.
Tudo tinha uma historia pra contar, de um tempo onde à janela não era velha,
Os braços não eram gastos e a madeira ainda exalava o forte cheiro do cedro.
A banda ainda passava por ali.
Sobre a janela repousava-se uma namoradeira.
Do lado da namoradeira, debruçava-se uma linda moça,
De cabelos negros, Olhos castanhos.
Pelo monte passeava as carreatas de trovadores,
Acenando versos, cantando o amor pra essa moça.
Se um desses trovadores fosse Machado De Assis
Certamente delegaria a essa moça os tais
“Olhos de ressaca, sereia obliqua e dissimulada”.
Será ela a Capitu?
Pobre Bentinho que não ousou aparecer e se colocar de joelhos naquela janela
E declamar o amor para tal moça.
Quando o sol sumia por de trás do monte.
Dando lugar a lua, era a vez das serestas de violões,
Onde a moça debruçada na janela ouvia o dedilhar das canções.
Que só cessava com o barulho do encontro do cedro da janela se fechando.
Os violões se calavam, eram engolidos pela noite,
Que por sua vez era engolida pelos sonhos dessa moça.
E o tempo foi passando, com a rigidez de quem aperfeiçoa um aprendiz.
A namoradeira que ficava na janela, caiu e se quebrou.
A banda foi se tornando cada vez menos frequente.
Sem Machado de Assis e sem Bentinho.
A carreata de trovadores se extinguiu.
O cabelo da tal moça nem era mais tão castanho.
A moça deu lugar a uma senhora.
Ao cair da noite, os violões se calaram de vez.
Serestas já não há mais.
Permaneceu apenas a janela que ficou velha.
Os braços debruçados que ficaram gastos,
Sobre a madeira que não exala mais o cheiro do cedro.
E o sol que por de trás do monte acena, bem ali no horizonte.
Mas sabe o que ainda permaneceu com mais veemência do que de outrora?
A perfeição da simplicidade das janelas velhas.
Onde os braços gastos se debruçam sobre a madeira que também é gasta,
Onde exala os momentos de tempos passados.
A velhice é apenas as marcas das lembranças jamais deterioradas pelo tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poema Urbano...


Minhas possibilidades de alegrias nem são tão inalcançáveis assim.
Basta um sorriso, boa música, pessoas queridas em minha volta.
Arte que afague a retina, e um amor antigo que me desperte aquela saudade gostosa.
Sentir a liberdade batendo no rosto...
Vim pensando nisso, entrei no ônibus, abri a janela, aumentei o som.
Fechei os olhos e senti o vento no rosto.
Parei para desfrutar dos prazeres pequenos que a vida nos oferece.
Me desliguei do mundo.
Me desliguei, mas não o suficiente pra deixar de ouvir as conversas em minha volta.
E ouvi a avó que se despedia do seu netinho:
_ Tchau meu amor, obrigada por encher minha casa de alegria.
Achei tão bonito e rico esse gesto.
Que essência nobre que essa avó está passando para seu neto.
Presenciei um poema urbano.
Quantas vezes somos preenchidos por alegria e sequer nos damos conta.
O que dirá agradecer.
Eu mesma fui preenchia por uma alegria por ter presenciado essa cena,
E não fui agradecer aquela senhora.
Isso me deu uma vontade de mudar, e agradecer por tanta coisa.
Estou em um momento de apego sentimental pelo que é simples.
Deve ser por ter percebido que o sofisticado, causa um desgaste emocional desnecessário e ilusório.
Me deu uma vontade de te ligar e agradecer por toda inspiração,
E pelo alvoroço de alegria que vem sendo derramada em meus dias.
E finalmente falar sobre aquela velha vontade de caminhar lado a lado naquela estrada ensolarada.
E pela vontade despertada de sempre está trabalhando para ser um ser humano melhor.
Meu corpo exige cuidados, e estou aprendendo a escrever no silêncio do meu quarto.
Tem tempos que não verbalizo sentimentos e quando isso acontece meu corpo fala.
E ele não dá trégua.
Mas nada mais importa, porque amanhã o sol me espera.
E se não houver sol, um céu fechado me aguarda.
Adoro dias nublados, quando a saudade bate em minha porta em tons de cinza.
 E se tudo correr bem a felicidade novamente derrama sobre mim.
E eu sussurro: OBRIGADA POR ENCHER MINHA CASA DE ALEGRIA.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Universo Impenetrável...



Para ser lido ao som de Milton Nascimento - Anima ♫

Quando criança, era de poucas palavras.
Passos curtos.
Meu olhar fitava o chão, pra não ter que fitar olhares.
Tinha meu próprio universo, que por sua vez era impenetrável.
Por onde passava, meu silêncio exacerbado causava alvoroço.
Levantando aqueles comentários convencionais.
De criança tímida, calada, quieta demais.
Meu silêncio atraia os olhares das pessoas,
Sendo que tudo que eu menos queria era ser notada.
Meu mecanismo de defesa foi fechar as portas do meu mundo.
Onde eu podia ser quem eu era, sem alvoroço.
Conversava com meus amigos imaginários,
Dos quais não se importavam com o meu silêncio.
Foi quando eu tinha meus 6 anos ou mais,ou talvez menos,
Idade suficiente para não ter percepção exata de tempo.
Alguém pula os muros do meu universo que antes era impenetrável.
E aprende a conversar com o meu silêncio.
Achei surreal tudo isso.
Como pode ser tão diferente dos demais?
Sorria pra minha falta de palavras, mas não criticava a ausência delas.
Companhia do meu silêncio quando recusou ficar com os outros adultos,
Para sentar em minha mesa, onde sozinha eu comia um bolo de cenoura.
Bolo de cenoura se tornou o sabor da compreensão desmedida.
Pela primeira vez alguem senta ao meu lado e simplesmente sorri.
Ao invés de mandar eu ir me sentar junto as outras crianças.
Não puxava conversa, e quando puxava não exigia minhas respostas.
Entendia minha falta de olhares, palavras, minha procura pela solidão.
Como pode ser tão diferente dos demais?
Queria de dito tantas coisas.
Queria ter te olhado mais profundamente.
Te desejado Boas Vindas quando entrou no meu mundo impenetrável.
Agradecido pela sua solidariedade e companhia nas tardes banhadas a bolo de cenoura.
Passei então a querer a sua companhia do que a de qualquer outra criança da minha idade.
Estar nos lugares onde você estava.
Tentar ensaiar algum dialogo que nunca existiu.
Mas você despertou essa vontade de comunicação para estabelecer laços firmes.
Me colocava no colo e ali ficaria a tarde inteira se assim fosse preciso.
Você e eu no meu universo impenetrável.
Um bolo de cenoura por favor?
E o silêncio falaria por nós.
O tempo passou e a falta de dialogo não estabeleceu os tais laços.
Ninguém mais entrou no meu universo, ninguém me coube tão bem quanto você.
Cresci, aprendi olhar pro céu, nem encaro mais o chão.
Olhares não me perturbam tanto, e  as palavras?
Estou aprendendo a lidar com elas.
Tenho páginas e páginas guardadas com tudo que quero lhe dizer.
Eis que surge o reencontro, há dialogo e estamos estabelecendo laços firmes.
Te mostro tudo que encontro de mais belo, e compatibilidade entre nós estão surgindo.
Meu universo impenetrável mudou de nome, virou meu infinito particular,
Onde você também entrou, não pulou os muros.
Entrou pela porta da frente, e no meu universo você cabe tão bem.
Um dia a gente se encontra de fato,haverá pele,contato.
Te levo pra tomar um café, peço um bolo de cenoura e você me explica:
Como pode ser tão diferente dos demais?
E o que o tempo nos tornou, falam por nós.

sábado, 16 de junho de 2012

Meus Anjos - Amigos...


Para ser lido ao som de Vander Lee – Pensei que fosse o céu

Ainda era madrugada.
Nunca tinha acordado, olhado para o dia sem ver o sol.
Não era procissão, mas fomos todos juntos pela escuridão.
Íamos para missa dominical.
No céu meu tio contava aviões.
Acompanhei na contagem,
As luzes eram nítidas vistas em meio aquele breu.
Além de contar, analisávamos suas direções, imaginávamos seus destinos.
Nunca havia olhado para o céu com olhos preenchidos de tanta sensibilidade.
Sensibilidade genuinamente interiorana.
Pobre de nós que passamos mais tempo olhando pro chão, do que pro céu.
Foi quando, como por descuido, o céu foi riscado por uma estrela cadente.
Nunca tinha visto tal fenômeno astrológico.
Mas segui o protocolo, tive 5 segundos.
Nos quais foram aproveitados com a minha prece, meu pedido.
- Que meus dias sejam preenchidos por música, em todo correr da minha hora –.
Respirei fundo, abri os olhos, sorri, segui a caminhada.
E com a mesma rapidez da estrela, a semana se passou,
E no final dela fui presenteada com uma agradável surpresa.
Meu anjo da guarda me presenteou com outro anjo da guarda.
De rosto a principio desconhecido, que depois de visto,
Dei-me contra que era um velho conhecido.
Propôs-me o que havia pedido a estrela.
Fazendo-me desconfiar do destino final daquele corpo celeste,
Que antes acreditava ter sumido do horizonte.
Mas acabou levando o meu pedido até cair nas asas daqueles anjos - amigos.
Foi tudo tão doce, sentada na calçada, sequer podia imaginar.
Nos segundos seguintes, a porta se abre,
Como se um feixe de luz entrasse, cruzasse minha retina e me cegasse.
Para que eu pudesse começar a enxergar de fato.
O que foi dito?
Tudo que eu queria ouvi.
E tudo fez sentido.
Lembra dos meus dilúvios internos, tão ditos anteriormente?
Pois bem, foi justificado, e compreendido.
Toda lagrima derramada tem sua razão.
Naquele instante pude crer, chorei para regar os bons frutos que estão prestes a ser colhidos.
E lhe digo com convicção:
Valeu à pena, está valendo à pena, valerá mais ainda.
Tenho fé no futuro.
A estrada caminhada não é nada mais que os meus passos.
E pela primeira vez não estou com medo.
Não estou mais em um quarto escuro.
Fui atingida por um feixe de luz.
E estou acompanhada por vários anjos – amigos.
E dois deles me mostrou o caminho
Onde finda o que daqui pra frente será o meu ninho.
Atenção!  Olhe mais para o céu,
E se passar uma estrela cadente faça um pedido.
E partir de então você correrá um grande risco de ser ouvido por um anjo amigo.

domingo, 3 de junho de 2012

IX Vezes Você...



Para ser lido ao som de Nina Simone - Here Comes The Sun ♫

Meu coração está aos pulos,
É uma alegria que não consigo disfarçar
Ando perdendo felicidade pelos cantos,
Escapa felicidade do bolso, do rosto,
Olhos, poros...
E quer saber?
Nem faço questão de deter essa represa de bons sentimentos.
Sabe por quê?
Porque no fundo de tudo isso tem você.
Era uma manhã de sexta feira,
O vento anunciava a chegada de algo bom que estava por vir.
A minha imagem refletida no espelho sorria,
Sem que eu estivesse sorrindo também.
E coincidência ou não,
Nina Simone cantava Here Comes The Sun:

♪♪ Tem sido um longo e solitário Inverno
Queridinha, parece que foi há anos que você esteve aqui.
Aí vem o Sol, você não está feliz em vê-lo, digo está tudo bem.
Aí vem o Sol, queridinha, está tudo bem, queridinha.
Aí vem o Sol, aí vem o sol eu digo, queridinha
Parece que foi há anos que você esteve por aqui
Queridinha, aí vem o Sol, está tudo bem.
Você pode sair lá fora ♪♪

Sim, fui lá pra fora,
Ao encontro da vida, do sol, e fui presenteada com o seu sorriso.
Fui presenteada com um dia, uma manhã e...
Nove vezes você.
Quer presente melhor que esse?
Ao longo da semana foi assim,
Com você em pequenas doses no desenrolar dos meus dias.
Sorrisos em pequenos frascos.
Sua atenção, seu olhar em minha direção,
E minha felicidade plena bem na palma da sua mão.
E eu aqui, torcendo para que você as fechasse.
Com minha felicidade dentro delas,
Forma de ter sempre algo meu, com você.
Minha felicidade presa nas tuas mãos era garantia de alegria plena.
E sabe os efeitos de tudo isso?
Uma vontade tamanha de fazer arte.
De tornar - me uma pessoa melhor para os outros e para mim.
Não pra me promover.
Mas uma forma de agradecer a vida por ter me dado um presente tão desejado.
Tão batalhado, tão querido.
É impressionante como você inspira tantas coisas bonitas,
E coisas bonitas fazem lembrar – me de você.
E é com você que compartilho tudo que há de mais belo.
Agora você percebe, porque é agora que você me nota.
Não importa o tempo, o porquê e a hora.
Estou no momento de colheita,
E isso me faz dar sorrisos que antes eram inabitáveis no meu rosto,
Hoje são comuns.
Como consegue alegrar minha alma que antes era triste?
Então obrigada pelas alegrias, pela poesia, pela arte,
Pelo desejo de me tornar o um ser humano melhor.
E que os meus dias sejam cada vez mais repletos do você.