sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O passado guardado no fundo da Gaveta...


Consultando registros antigos,
Me deparei com um caderno
Que foi meu companheiro por muitos anos,
E que até poucas horas estava perdido no fundo da gaveta.
Entre fotos, bilhetes e músicas,
Encontrei o meu primeiro versinho que fiz por volta dos meus 9 anos:

“Amor?
Que palavra é essa?
Que hoje me faz sentir sua falta
Amor?
Quem deu esse nome
Será que já amou alguém?
Amor, Sinceramente não sei o que é.
Se é loucura ou querer estar perto”

Mergulhei fundo no meu passado.
Fiquei submersa no conflito do meu desconhecido.
Percebi que quando jovem,
Escrevia perguntas, para que na maturidade pudesse dar as respostas,
Escrevia e tinha a preocupação de deixar espaço para futuras respostas.
Gostava de ter a classificação de tudo que pulsava dentro de mim.
“Sentir” naquela época era pouco demais, queria ter o conhecimento do significado.
Como se os sentimentos pudessem vir em dicionários com ordem alfabética,
Exemplo de aplicação no cotidiano,
Conjugação e classificação por grau de envolvimento.
Só depois de muitos anos que compreendi,
Que certas coisas basta sentir, não é necessário entender.
Fechar os olhos e deixar o barco correr.
Em meio a esses versos, ri da minha inocência,
Da minha sede de respostas,
Da minha caminhada pela contramão do tempo.
Da minha vontade de viver o que sentia, sem entender por que.
Vi o tanto que cresci com as minhas perguntas sem respostas.
E hoje quando volto os olhos pra tudo isso,
Distancio-me de mim mesma,
Sinto-me responsável pela criança daqueles versos,
Sinto-me na obrigação de orientá-la em meio a tantos questionamentos.
Mas vejo os espaços deixados por mim
Em cada pergunta sobre o que era o amor,
E sinto dizer que ainda não sei responder,
Não sei o que é o amor,
Desconheço a origem da palavra,
E desconheço quem assim o chamou pela primeira vez,
Se esse alguém já amou.
E também não sei qual linha que separa a loucura da sede de aproximação.
Mas aprendi a simplesmente sentir,sem necessariamente classificar.
Talvez daqui há 10, 20 anos ou mais  ...
Eu venha rir novamente do meu conformismo leviano.
Mas “hoje” me reservo o direito de apenas sentir.
Aprendi ser marujo,
Fechar os olhos e deixar o barco correr,
Pois quando menos esperar,estarei em terras firmes,Ou não.
Talvez aprenda os encantos de viver a deriva.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Bumerangue dos bons fluidos...

Se não foi a vida levantando bandeira branca,
Ou a conspiração do universo,
Ou o destino dizendo sim,
Ou a conseqüência do meu primeiro passo,
Se não foi nada disso...
Não sei que força mística que determinou tudo que aconteceu.
Sempre acreditei no poder da palavra,
E na força do pensamento.
Por isso, todos os dias quando acordo,
Sussurro antes mesmo de abrir os olhos:
Que neste dia a seta acerte no alvo.
Que o gosto seja doce ao paladar.
Que o horizonte encante os olhos.
Que tenha sempre um céu azul
Depois de cada tempestade.
Mas se caso a seta errar o alvo,
O gosto ser amargo ao paladar,
O horizonte não encantar os olhos,
E o céu azul não aparecer depois da tempestade,
Que eu saiba extrair da frustração de não ter o que se espera
O aprendizado necessário pra SEMPRE seguir em frente.
Fiz isso por 10 anos até a exaustão.
Chegou uma hora que essas palavras eram automáticas,
Tropeçavam umas nas outras enquanto trocava o pijama.
Mas no fundo sempre há uma força vital,
Que fazem as orações nunca perderem seu sentido e sua força.
Ai quando uma coisa muito boa te surpreende no cair da noite,
E você se pergunta que força mística que determinou tudo isso,
É quando se dá conta que é o bumerangue dos bons fluidos,
Dos sussurros matinais e dos pensamentos positivistas,
Sorrindo do seu esforço diário.
É o que aconteceu nos últimos meses,
O bumerangue das coisas boas me acertou em cheio.
Amadureci dez anos ou mais,
Agradeci o dobro de vezes.
A maré de sorte não vem com prazo de validade,
Nem período de duração.
Então, degusto enquanto for agradável ao paladar,
Enquanto for doce de se pensar.
E agradeço até a exaustão.
Pois um dos meus maiores medos,
É ser ingrata com o acaso, destino,
Ou essa força maior que nos move...
Quando tudo isso finalmente sorriu pra mim.

...Sou uma seringueira
Aberta a te esperar
Tô te trazendo
Em pensamento só pra mim
Eu bem tava dizendo
E olha lá
Pois cedo ou tarde
Toda espera tem seu fim
Te quero,espero
Eu tô te vendo chegar
Estrelas, que brilham
E já nem existem por lá
Te quero,espero
Eu tô te vendo chegar...
(Toda Espera - Jorge Vercillo)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"A arte como um encontro com Deus..."


Fonte: Ateliê Lulu & Cia.

A arte sempre me encheu os olhos.
O processo de criação é a essência mais nobre e humana.
E o encanto da arte criativa,
É fazer da simplicidade uma via de mão única de encontro com Deus.
E se encontrar com Deus é se olhar no espelho,
É encarar a realidade que não pode ser vista.

E a realidade superficial já me fatigou o olhar,
Quero ir mais fundo, quero ver as almas.
E uso a arte como veículo da minha busca,
Pois a arte é o espelho da alma do artista.
E tenho encontrado com almas tão bonitas pelo meu caminho.

No momento que o criador e a criação se misturam sem perceber,
Posso ver claramente na aquarela, na argila,
A generosidade de quem se doa, faz das mãos um oficio.
Faz do traço o caminho para se eternizar.
E a arte é tão democrática, pois não há distinção.

Vejo uma escultura onde uma mulher puxa um cão,
Sendo feitos do mesmo material,
Separados e interligados por uma linha tênue.
O que é dito racional se mistura com o irracional,
Voltados para uma mesma direção,
Envolvidos pelo mesmo encanto.
Só quem tem um olhar profundo,
Consegue ver a semelhança contida no avesso.

As almas têm uma predisposição à homogenia.
Sabedoria que o corpo não dispõe,
Não conseguimos olhar o outro,
E ver mais do que se quer enxergar,
Sentir uma continuidade de nós.
Não conseguimos nos encontrar no outro.
Sermos interligados por uma linha tênue invisível e indestrutível,
Que une nossos extremos e nossos opostos,
Que nos fazem seguir para uma mesma direção.
Seria o encanto do envolvimento humano.

Mas isso seria subjetivo demais para uma matéria tão fugaz como a carne.
Sabedoria assim, só a alma dispõe.
Que ensina e encanta, mas não germina em solo qualquer.
Porque assim como para a beleza do bordado se deve a perfeição do avesso.
A genialidade do artista se deve a uma alma nobre,
A uma generosidade aguçada,
Um olhar profundo da sua volta.
Uma sensibilidade exacerbada.
É mais alma do que corpo.
É mais encanto e beleza.
E ver essa personificação chega doer à íris,
Faz temer até o piscar dos olhos.
Faz-me agradecer por presenciar tudo isso,
Ao ver a arte, da moça e seu cão,
Com toda sua essência humana de beleza
Da genialidade de quem faz da arte, um encontro com Deus.

Além da Página 2...


Embarca nessa loucura comigo?
O sim veio sem pedir nem ao menos explicação.
Acredita nesse sonho comigo?
Quando vi, já estava torcendo.
É certo que vivemos em um mundo consumista,
Mas é tão raro encontrar alguém que compre sonhos alheios.
E ela compra, vive e compartilha.
É de uma sensibilidade sem tamanho que não tem medo de demonstrar.
Entrega-se ao ápice do mais puro sentimento.
Me ouve quando canto,e já imagina o além do contra ponto.
Lê meus versos, e vê além das entrelinhas.
É doce,
É sutil,
E ainda faz parte da minha vida.
É um dos anjos que sussurram aos ouvidos que os sonhos não envelhecem.
É mãe,
É irmã,
É filha.
E não tenho duvida da desenvoltura que exerce cada papel.
Foi falando de você que descobri,
Que não sei ser surpreendente quando falo das pessoas que mais amo.
Você me mostrou a obviedade dos meus versos,
E o mistério contido em cada vírgula.
Você me ensinou a confiar.
Me ensinou a sonhar,tendo os pés firmes ao chão,
Sem estar totalmente submersa a realidade.
Tem uma relação intima com Deus,
Tão intima que canta para ele.
E não duvido muito,
Que nas vezes que você canta,
Ele te acompanha no mesmo canto.
No mesmo sopro.
Na mesma nota.
No mesmo som.                              
Quando dispara o coração.
É generosa ao valorizar a arte do outro,
Sendo modesta com a sua.
É humana quando sente a dor de desconhecidos na rua,
É solidária a elas pedir nada em troca.
Seria impossível te definir,
Minha intenção não é essa,
Sua característica é doce,
É fácil de perceber,
É riso fácil,
É uma criança dormindo.
É um canto pra Deus.
É um anjo que sopra aos ouvidos
Que os sonhos não envelhecem,
Que o encanto da vida,
Pode estar “Além da Página 2”

Irmã de Alma...


Quando nasci,
Os astros...
O acaso...
Ou a conspiração do universo...
Não sei dizer...
Não foi generoso quanto ao tamanho da minha famíliar.
Tenho uma irmã,
Algumas tias e tios,
Alguns primos,
Levando em consideração que não tenho contato com todos,
O que diminui pela metade a quantidade de cadeiras em cada reunião de familiar.
Isso me fez sair pelo mundo preenchendo os espaços existentes
Causados por ter uma família pequena.
Ganhei o passe livre de escolher os laços eternos,
Que para mim vão além dos sanguíneos.
Foi quando a vida me deu mais uma irmã.
A descoberta desse mais novo parentesco não foi à primeira vista.
Foi com o que fortalece toda e qualquer relação:
“A convivência.”
Descobri que ganhei uma irmã.
Quando a “convivência” passou do riso,
Para o riso e o pranto,
Para o riso, o pranto, e o silêncio.
Para o riso, o pranto, o silêncio e tudo aquilo que a palavra não determina.
Descobri que ganhei uma irmã,
Quando a tristeza dessa amiga,
Significava a minha tristeza também.
Quando a lembrança dos nossos momentos,
Causa aquela dorzinha provocada pelo medo do fim.
Quando conto o meu maior segredo,
E não me arrependo depois.
Quando penso que vou ser questionada,
E ela simplesmente me entende.
Descobri que ganhei uma irmã,
Quando me dei conta que nem todas as palavras
Seria o suficiente pra declarar sua importância.
Quando me imagino ao longe,
E descarto a possibilidade da sua ausência.
Por quê?
Porque a vida me deu uma irmã de alma.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Novos Caminhos...

Degrau por degrau eu alcanço a mim mesma
Cada palavra cantada ,sofrida é forjada
Na minha certeza.
Degrau por degrau vou até o infinito.
Meu canto grave vai estilhaçar
Todos seus argumentos de vidro.
(Argumentos de Vidro - Isabella Taviani)

E nessa escada deixo pra trás minhas pegadas,
Coisas largadas, flores despetaladas,
Risos, bagagens,
Testemunhas oculares da minha passagem.
É tempo de mudanças.
É o que anunciou essas ultimas semanas.
Subi mais um degrau.
Virei mais uma pagina.
Deixei Para trás
Alguns dos meus melhores versos,
Minhas lagrimas mais sentidas,
Revelei certos segredos
Sorri pra tudo isso.
Despedir-me de certas partes de mim.
A bagagem estava pesada demais,
Tive que me libertar de certos pesos pra seguir caminhada.
Levo tudo na lembrança,
Boas lembranças em mim,
E boas lembranças na mente de quem ficou.
Um ciclo se fecha.
Uma nova porta se abre.
Nessa hora que Deus aparece.
Abri minhas janelas,
Deixei que escapasse meus maiores segredos.
E ganhei mais alguém pra confiar (mais).
Descobri que te amo mais,
De forma diferente.
Mais madura.
A arte criou uma ponte que une nossos extremos.
E suas palavras vieram em minha direção.
E como foi doce.
Vai dizer que nossas preces não alcançaram o céu?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Essa velha historia de você e eu...


Pode até parecer repetitivo demais essa velha historia de você e eu.
Pode até parecer loucura ver alguma historia entre você e eu.
Mas minha insanidade já foi mais que declarada e comprovada.
Certos fatos não adiantam nem negar.
Quando te conheci, te neguei cada vez que aparecia no meu pensamento.
Neguei por milhares de vezes em menos de um segundo.
Andei sempre na contramão do tempo.
O que há de se fazer?
Hoje a negação já não me apetece.
O tempo é tão curto para tanto “não” em fração de segundos.
Aprendi a querer o que está no alcance das minhas mãos.
E admirar o que apenas o olhar alcança.
Ter criatividade para imaginar o que eu não posso ver.
Garanto que você já passou por todas essas fases.
No sentido inverso de cada verso.
Te imaginei quando não podia te ver.
Admirei quando você estava distante,
No alcance apenas do meu olhar.
Hoje está no alcance das minhas mãos.
E de que adianta?
Tua arte é abstrata demais perto da minha.
Eu não conseguiria chamar sua atenção.
Meus versos não são imãs, que atraem seu olhar.
Sinto muito, mas foram feitos pra você.
Pertencem mas a você do que a mim que os escrevi.
Perdoe minha sensibilidade artística decadente.
Escrevo versos, atiro ao alvo, estando tão perto de mim,
Mas não acerto.
Você é a mira que nunca tive, não consigo te atingir em cheio,
Como pôde me acertar bem no peito?
Mas não faz mal, você me ensina com a arte do silêncio,
Arte tão bonita e nobre como essa não há.
Está me ensinando viver sem você.
Ensinando minha arte existir sem almejar um alvo.
Estou me apaixonando pelo vento,
Elemento que sei que existe, mas não vejo,
Não fala, apenas sopra ao meu ouvido,
Não se deita comigo, mas sinto sua presença.
Quase como você.
A diferença?
É que a arte dele não é tão abstrata,
Sendo assim um alvo mais fácil de acertar...
No meu quintal,construí um moinho.

...Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó...
(O Mundo é um Moinho - Cartola)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Quando eu era criança...


Quando eu era criança,
Tinha medo do escuro.
Tatear o desconhecido
Era temer o que eu poderia encontrar.
Sair do campo de visão dos adultos.
Era inadmissível...
Meu pai sempre dizia:
Liberdade demais não combina com pouca idade.
Nunca deixou que eu empinasse pipa,
Acho que ele temia que eu aprendesse a voar.
Pipa no ar era a clara personificação da liberdade,
Voar sendo preso por uma linha tênue na terra.
Era quase encontrar com Deus.
Nunca andei de bicicleta sem as duas mãos,
Tinha medo de perder o controle.
Nunca fiquei mais que três segundos debaixo d’água.
A pressão nos ouvidos me incomodava.
Nunca me enterrei por completo na areia,
Tinha uma alergia que não me permitia muito contato com o mundo.
Nunca dei uma gargalhada de madrugada.
Pois na calada da minha noite, o som não se propaga.
E no meio de todos esses medos, me apaixonei.
Sentimento de tanta doação,
Foi brotar em um mar de tanta privação, medo.
Criei um universo paralelo.
Comecei a brincar com palavras rimadas.
Inventar amores, sussurrar de madrugada o quanto te amava.
Gostei tanto disso.
Eis que acontece o que meu pai tanto temia...
Aprendi a voar.
Nas poucas vezes que te via, eu fugia.
Fugia de você porque no fundo queria fugir de mim.
Escrevia pra você, palavras rimadas que queria dizer pra mim.
E sempre exigi sua compreensão,
Mas minhas entrelinhas envolvidas por tanto mistério,
Era indecifrável, quase um dialeto próprio.
Mas o encanto de tudo isso,
Era a liberdade que sentia ao pensar em você.
Pois no pensamento não tinha medo de tatear o desconhecido,
Perder-me de vista,
Perder o controle,
Porque no pensamento é o único lugar que somos totalmente livres.
E era em pensamento que te encontrava todas as noites,
E me desvinculava dos meus medos
Porque quando eu era criança...
Gostava de inventar meus dias,
Brincar com as palavras,
E pensar nos meus amores.











...Não fique triste, menino
A linha é tão fácil de arranjar
Venha aqui, venha escolher
Papagaio de toda cor...
A casa estava escura
No vento forte a chuva desabou
A luz não vem, eu aqui estou
A rezar na escuridão e só...
Venho no vento da noite
Na luz do novo dia cantarei
Brilha o sol, brilha o luar
Brilha a vida de quem dançar...
(Maria Solidaria - Beto Guedes)


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Deixa-me entrar na sua vida?



Deixa-me entrar na sua vida?
Estou parada na sua porta,
Esperando você abrir.
Estou carregando o meu melhor sorriso.
Separei o meu melhor abraço.
Está tudo a um passo de acontecer.
O sinal para avançar?
É a sua boca dizer um sim.
Já está tudo previamente combinado.
Não tem como dar errado.
Você me oferece o que dispõe.
Que eu aceito sem nenhuma exigência.
Assim como ofereço o que trago comigo.
A cidade está em festa.
E eu nem entendo bem o porquê.
Sendo que a minha alegria dos últimos dias
Foi olhar pro lado e ver você
Quero ser seu ouvido,
Saber das suas historias,
Sua trajetória,
Não seria sacrifício dedicar meu tempo a você.
Você me fala do seu processo de criação.
Tua arte abstrata não seria difícil entender.
Que eu falo das minhas loucuras todas.
Do que acredito e defendo.
Compatibilidade entre nós há de ter.
Se quiser te mostro minhas músicas,
Meus versos, pois é lá que me perco em você.
Sem saber...
Mas essa é outra historia, pagina virada.
Meus amores inventados ficam pra outra hora.
Tenho paginas proibidas, não posso esquecer.
Estou aqui na sua porta.
Te dando todos os motivos pra me deixar entrar.
Basta simplesmente você olhar.

...Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva...
(Vambora - Adriana Calcanhotto)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Carta sobre o tempo...


Sinto que vida é uma grande estrada.
Com algumas curvas, buracos.
Falsas placas, areias movediças,
Campos de flores, risos fáceis,
Aos sons de sax e flautas transversais.
E no decorrer de tudo isso,
Os pés vão ficando cansados,
As afeições ganham os traços do tempo,
As costas se curvam com o passar dos anos.
E no fim dessa estrada sempre há uma criança a nossa espera.
Aguardando-nos para que assim possa iniciar sua caminhada.
É nessa hora que a pegamos no colo,
Embalamos nos braços tão cansados,
Braços que deram tantos abraços.
Servem de porto para ensinamentos,
Adquiridos nessa tortuosa estrada.
Então a pego no colo,
E falo sobre o novo lar que a espera:
Atravessei toda essa estrada, na condição de mero aprendiz,
Pra chegar à reta final e te ensinar sobre tudo que vivi,
Para que assim, talvez, você tenha uma trajetória mais leve que a minha.
E no final do seu percurso passar esse conhecimento para outra criança,
E assim segue o ciclo.
Pois bem, lhe digo:
De tudo que aprendi,
De tudo que eu vi e vivi, lhe digo que nada sei.
Isso mesmo, nada sei, e a vida é isso.
É não saber e mesmo assim ter gosto de viver.
Mas existem quatro coisas que me deparei nesse percurso,
E acredito que foi essencial nessa trajetória.
O amor...
A morte...
Solidão...
E o tempo...
O AMOR... A única exigência que lhe faço:
AME! da forma mais visceral, passional,
Que esse pequeno coração puder,
Ame sem culpa,
Pois esse sentimento que lhe dará força para seguir em frente,
Ele transforma tudo, ele faz nascer uma luz dentro de si,
Que ilumina os caminhos mais escuros.
É certo que na sua caminhada você irá se deparar com buracos
Que colocará seu amor à prova,
Buracos esses que sei de cor, poderia te passar o mapa desse campo minado,
Mas esse é outro segredo, o amor precisa ser colocado à prova,
Só assim ele ficará forte, ganha valor, fica mais bonito.
A MORTE, palavra triste não é mesmo?
Você terá que aprender olhar pra ela,
O trabalho dela é levar as coisas.
 Fechar certos ciclos,
É ai que habita a tristeza nela, às vezes perder não é fácil,
Dói, porque faz nascer em nós uma dorzinha aguda,
Que um dia alguém deu o nome de saudade,
Saudade de alguém que se foi, de um momento que passou,
De um sentimento que nasceu, mas morreu.
SOLIDÃO, um dia Rainer M. Rilke, um poeta,
É assim que chamamos as pessoas que brincam com as palavras.
Disse que
“Na medida que estamos sós, o amor e a morte tocam – se”
Concordo com ele ,a solidão as vezes une os extremos,
Que acreditávamos ser inabitáveis no mesmo espaço.
Ficar sozinho as vezes é bom,para colocar as coisas no lugar,
Mas não estique demais o seu tempo de solidão,
Pois um outro poeta chamado Tom Jobim uma vez disse:
“É impossível ser feliz sozinho”
Observação: Sempre escute os poetas.
E o TEMPO, ele é sempre tão curto,
Uma vez ouvi isso de um velhinho de 103 anos.
Todo tempo do mundo,nunca é sufuciente
Quando se tem um mundo inteiro a desbravar.
Então,viva,ame,morra as vezes,fique sozinho,renasça,
E aproveite seu tempo,cada minuto,
Porque dessa vida não se leva nada.
Nem ao menos o conhecimento.
Porque viver é não saber,
Não saber as regras, os atalhos,as respostas,
O caminho,mas mesmo assim ter gosto de viver.
A ponto de ouvir um velhinho de 103 anos
Dizer que o tempo é curto...
E concordar que ele tem razão.

...Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
(Oração Ao Tempo - Cartano Veloso)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quando o passado novamente passou por mim...


Quando o passado novamente passou por mim,
Eu sorri...
O sorriso mais bonito, o mais sincero, o mais feliz.
Pra você, sempre separei a minha melhor parte.
Minhas melhores palavras, meus maiores cuidados.
O tempo retribuiu com muita generosidade meu esforço diário.
Não me levou com ele, e nem me deixou com você,
Não deixou que o vento me levasse,
Nem que a falta de uso me deteriorasse.
Deixou - me guardada em um cantinho qualquer,
Como quem repousa a semente em um solo fértil,
Que não precisa de cuidados, somente esperar o tempo de maturação.
E eu cresci, aprendi e me preparei com extrema dedicação.
Pra não deixar essa oportunidade escapar pelas mãos.
Tudo está sendo tão doce, tão leve.
Coração tranqüilo, tudo está mais claro.
Vi seu sorriso em minha direção,
E apenas vi o seu sorriso,
E não a minha única chance de ser feliz.
Você falou comigo, com o mesmo encanto de sempre,
Com gesto repleto de afeto,
Foi à confirmação da escolha certa para todos os meus versos,
Senti orgulho por um dia ter te amado.
Amei uma pessoa linda, de corpo e de alma.
Hoje resta uma admiração,
E uma vontade de estar perto,
Sem se importar de estar longe.
Mas “Estar” com você de certa forma.
Aceito o que você me oferecer,
Não por conformismo.
Mas por sabedoria de aceitar o que você puder me dar,
Assim como oferecer o que estiver no meu alcance.
Aos poucos, na medida em que eu for me mostrando.
Enquanto no seu universo eu vou entrando,
Aos poucos desbravando, substituindo sentimentos.
Sem expectativas, sem cobranças, sem ilusões.
Mas de portas e janelas abertas para o que estiver por vim.
Pra me conhecer, basta abrir uma fresta,
Que eu mostro quem eu sou...
Mostro o que eu me tornei.

...Que sera sera
Whater will be will be
The future's not ours to see
Que sera sera ...
(Pink Martini - Que Sera Sera)

domingo, 27 de novembro de 2011

Novos Venenos...


Dei para provar de novos venenos,
E confesso ter me encantado com certos gostos.
Provo dos venenos sem os antídotos por perto,
E descobri que o meu corpo é imune a muitas coisas que desconhecia.
E como é bom estar em constante queda livre,
Descobri que posso ser leve.
Livrei-me das bagagens pesadas
E agora?
Vamos dançar?
Mesmo sem música.
Mesmo sem alguém para acompanhar.
Mesmo sem saber dançar.
É só se deixar levar.
Lembra quando éramos criança,
E tínhamos medo de sair da borda da piscina?
Mal sabíamos que a vida é submersão.
Assim como andar de bicicleta,
Sinto dizer, mas a vida é desequilibro meu bem.
É um jogo de cair e levantar,
Os dados estão rolando,
Todo jogo tem regras, esse não é diferente,
Mas elas não são ditas previamente.
Nada é dito de antemão.
E ser feliz é quase uma obrigação.
Tenho perdido os meus medos.
Minhas atitudes passam por uma criteriosa seleção,
Se não faz mal a mim, e a ninguém,
Então me jogo...
E deixo que a conspiração do universo dite o próximo passo.
E está dando certo.
Tenho perdido o medo de ser mais feliz,
E ganhado um coração mais tranqüilo.
...Tem olhos de ressaca
mente aberta corpo são
e a medida certa para o meu violão
Veneno de escorpião
só de olhar me leva ao chão...
(Escorpião - Michelle Oliveira)

sábado, 19 de novembro de 2011

Limitação Humana...



Você não sabe o quanto que é difícil ter uma alma inquieta,
Habitando um corpo que é inércia.
Você não sabe o conflito que dá.
Você não sabe nada de mim...
Mas não te culpo, isso não é uma limitação humana,
É que realmente não sou de mostrar quem eu sou,
Minhas qualidades e meus defeitos,
Guardo em um fundo falso junto ao peito,
Tudo misturado, bem no fundo da gaveta.
Somente alguns defeitos arredios que me escapa pelas frestas.
E eu lamento tanto por isso, lamento minha imperfeição,
Como se em algum momento alguém tivesse me dito que seria minha obrigação ser perfeita.
Quando me mostro,lamento, antes,durante e depois do fato pressentido.
Eu mesma me julgo,me puno e me redimo.
Quando criança me lembro de inventar personagens,
Vivia querendo fugir de mim,adotando outras identidades,
Aproveitava da minha criatividade exacerbada,
Conversava sozinha com amigos imaginários,
Minha mãe sempre muito amável, nunca me taxou como louca,
Sempre me compreendeu.
E até hoje tento fugir de mim,e ainda me pego falando sozinha,
E minha mãe continua me compreendendo.
Pois é,desde muito cedo percebi que era fácil fugir do mundo,
Era só esconder debaixo da cama.
Mas fugir da gente... Acho que é impossível,
Essa sim é a nossa limitação humana,a de não dar tréguas.
Você deve estar pensando na covardia que é fugir de si mesmo.
Eis que  mais um defeito escapa pelas frestas.
Nunca devemos nos retirar da luta,
Muito menos quando é em causa própria.
Mas em toda guerra há um campo de concentração,
Há uma trincheira onde nos protegemos,
Traçamos a tática, curamos as feridas,
Um lugar para se refugiar, se recompor.
E é isso que quero dizer com a minha vontade de fugir e mim,
É trocar as vestes, cicatrizar as feridas,
Pensar na tática de conciliar os meus extremos,
De conseguir pacificar minha alma inquieta com o meu corpo em inércia.
Porque de mim eu não desisto, é que às vezes me canso.

...Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?
(Eu não sei na verdade quem eu sou - O Teatro Magico)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Porta Fechada...


O que dita quem eu sou?
Sou como me mostro ser?
Ou sou o que penso e às vezes não mostro?
Alguns dizem que sou calada,
Fechada, metódica,
E se não tomar cuidado posso passar um ar de falsidade.
Falo o que sinto, mas não falo o que vivo.
Pareço uma desconhecida para os meus amigos mais próximos.
Desculpa, se minha imperfeição é tão evidente aos olhos.
Não faço por mal, é involuntário.
Não consigo falar de mim
Com mesma empolgação que falo sobre Carpinejar, Chico,
E o mico que paguei na semana passada, rio de mim mesma.
Será que sou tão fechada que chego ser uma desconhecida para mim?
E falar de mim é a mesma coisa que desenvolver uma tese sobre o Dilúvio mapuche,
Falar do desconhecido é optar pelo silêncio.
É não ter vontade de sequer tocar no assunto.
É como falar de como que hoje fez calor,
Para muitos soa como um assunto sem relevância,
Mas para outros é uma grande informação que significa indícios de chuva.
E como achar relevância, no pra você é convencional?
Minhas opiniões mais polemicas, costumo não dizer,
Quando digo, se há discordância, costumo não rebater.
Porque minhas crenças, o que penso e acredito,
Só diz respeito a mim acreditar fielmente,
Não vou empurrar minhas convecções goela abaixo do mundo,
Apenas comunico que elas existem.
Prefiro ouvir a falar,
Meu silêncio às vezes diz mais do que um discurso,
Mas não é tão audível quanto um grito.
Estou revendo os meus conceitos,
E mudando na medida do possível,
Então não exija o que no momento não poderei oferecer,
Estou a caminho de te agradar,
Mas garanto que não conseguirei te satisfazer por completo,
Mas reitero pedindo desculpas pelas minhas falhas,
Pela minha imperfeição tão evidente.
Sou uma porta fechada, mas as janelas estão abertas,
Pode entrar me ajude achar o segredo certo para as minhas trancas.
Mas não me pergunte porque que eu joguei as chaves fora.

...Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado...
(Gita - Raul Seixas)

domingo, 13 de novembro de 2011

Quando o Amor Morre...


Desapaixonar faz tão bem quanto se apaixonar!
Afirmação aparentemente contraditória,
Mas condiz com a realidade.
Pois digo com conhecimento de causa.
Os efeitos são distintos,
Mas o resultado pode ser positivo.
Veja bem,quando nos apaixonamos,
O pensamento não cessa,
Passamos a pensar, olhar, querer tudo em prol da pessoa amada.
E quando desapaixonamos?
Quando morre o sentimento,
O amor é sepultado,
Passados os sete dias de luto,
Com velas, lágrimas e missa de sétimo dia,
O que sobra é o que o amor não levou da gente,
Começamos a sair de casa,
E vemos que no chão a sombra é única.
Atender ao telefone e consultar os recados da secretaria eletrônica,
E ver que o amor não deixa recados, nem de Adeus.
Conhecidos nos perguntam como estamos,
E o “Tudo bem” é quase que automático.
Com passar dos dias respondemos e ainda sorrimos.
Os casais na rua, não nos levam mais a nocaute.
As canções de amor não nos apunhalam mais pelos ouvidos.
E não choramos mais no inverno,
Descobrimos um novo vinho, que aquece, mas não embriaga.
Deus começa ouvir nossos pedidos para que cesse o pensamento.
O avanço é visto todas as manhãs no reflexo do espelho.
Sem ter quem cuidar, o que nos resta é cuidar da gente.
Ai que o amor tira a mortalha e passa nos fazer bem.
Mudamos o cabelo, acalmamos nossas afeições,
Mudamos todo o estilo e estrutura do armário,
E passamos a não ter mais pudor.
Todos cochicham a possível aparição de um novo amor.
Mas amor não há,
É só uma vontade que soa quase como uma necessidade de cuidar da gente.
Sem interesse ou má intenção de chamar atenção de alguém.
É juntar os cacos, somar os saldos, fazer um afago no pobre e errante coração.
É trabalhar pra ser melhor para os outros e para gente,
Só para enobrecer tudo do pouco que o amor deixou.


(...)Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais(...)
(Olhos Nos Olhos - Chico Buarque)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Meu Bem,já é Outubro...




Estou no meio de um dilema literário,
Há poucas horas é o seu aniversário e eu não sei se devo relatar sobre isso.
Porque poderia significar uma recaída,
Teria que aturar os cochichos da minha consciência e do meu bom senso
Recriminando minha fraqueza.
Mas não lembro de ter delegado ao seu nome segredo de estado.
Seria um ato de coragem deixar que falem.
E aos que realmente se preocupam,
Podem ficar sossegados, assim como meu coração,
Que está livre de um amor antigo,
Mas não me peçam para me desfazer dos velhos costumes,
De esquecer certas datas, deixar que passe em branco,
O que há anos foi como tatuagem cravada junto ao peito.
Passar por “outubros”
Com a calmaria de quem descansa em uma varanda numa cadeira de balanço,
Vendo a primavera passar, como se fosse uma estação qualquer.
Seria improvável, pois não tenho varanda, muito menos cadeira de balanço,
Meu corpo não dispõe de tanta calmaria, e a primavera nunca foi uma estação qualquer,
Confesso que sempre gostei mais do inverno, e em segundo lugar a primavera,
Deixo implícito no meu gosto o meu estado de espírito,
No inverno eu morro, pra na primavera florescer.
Assim como as flores.
E o que dizer nessa data, no relógio já marca mais de meia noite,
E uma vez ouvi dizer que quando as pessoas são muito importantes em nossas vidas,
Uma forma que comemorar o seu nascimento,
É não esperar o nascer do sol para desejar felicitações,
E sim esperar o relógio marcar meia noite,
Desejar parabéns nos primeiros segundos do seu dia.
Faço isso com os meus,
Pra você eu nunca liguei meia noite,
Mas isso não é sinal de pouca importância, muito pelo contrario,
Nunca liguei porque não tenho seu numero muito menos intimidade para tal,
Mas pode ter certeza que nesse horário... Nesse dia,
Eu sempre parei para mentalizar coisas boas,
Feito oração, como se os anjos lhe entregasse durante o sono meus desejos repletos de felicidade.
Fiz isso todos os anos, religiosamente.
E agora, posso até imaginar seus amigos, sua família, seu amor,
Esperando dar meia noite para dar os parabéns,
Afinal é você uma pessoa bastante querida, não só por mim,
Isso eu pude ver.
O que eu disser agora se tornaria clichê.
Qual são as palavras que nunca foram ditas em um discurso de aniversário?
Não sei dizer. O que eu lhe desejo, já mentalizei,não há mais o que falar,
Certamente quando seus olhos se fecharem para mais uma noite de descanso,
Um anjo deve lhe visitar entregando meus desejos,
E se a janela estiver aberta, meus bons ventos vão entrar em seu quarto,
Tocará em seu rosto como um beijo, sussurrando em seu ouvido tudo que lhe desejo,
Sem que você se lembre ao acordar.

(...)É primavera,as flores saíram pra te visitar,
E já que não estou ai peço ao vento que leve pelo ar,
Minhas rimas,meu amor e tudo que preciso for pra te fazer sorrir.
Em Outubro eu não choro,eu não peço colo,não quero saber,
Em Outubro todos os caminhos me encaminham pra você.
Meu bem,já é Outubro(...)