segunda-feira, 18 de junho de 2012

Universo Impenetrável...



Para ser lido ao som de Milton Nascimento - Anima ♫

Quando criança, era de poucas palavras.
Passos curtos.
Meu olhar fitava o chão, pra não ter que fitar olhares.
Tinha meu próprio universo, que por sua vez era impenetrável.
Por onde passava, meu silêncio exacerbado causava alvoroço.
Levantando aqueles comentários convencionais.
De criança tímida, calada, quieta demais.
Meu silêncio atraia os olhares das pessoas,
Sendo que tudo que eu menos queria era ser notada.
Meu mecanismo de defesa foi fechar as portas do meu mundo.
Onde eu podia ser quem eu era, sem alvoroço.
Conversava com meus amigos imaginários,
Dos quais não se importavam com o meu silêncio.
Foi quando eu tinha meus 6 anos ou mais,ou talvez menos,
Idade suficiente para não ter percepção exata de tempo.
Alguém pula os muros do meu universo que antes era impenetrável.
E aprende a conversar com o meu silêncio.
Achei surreal tudo isso.
Como pode ser tão diferente dos demais?
Sorria pra minha falta de palavras, mas não criticava a ausência delas.
Companhia do meu silêncio quando recusou ficar com os outros adultos,
Para sentar em minha mesa, onde sozinha eu comia um bolo de cenoura.
Bolo de cenoura se tornou o sabor da compreensão desmedida.
Pela primeira vez alguem senta ao meu lado e simplesmente sorri.
Ao invés de mandar eu ir me sentar junto as outras crianças.
Não puxava conversa, e quando puxava não exigia minhas respostas.
Entendia minha falta de olhares, palavras, minha procura pela solidão.
Como pode ser tão diferente dos demais?
Queria de dito tantas coisas.
Queria ter te olhado mais profundamente.
Te desejado Boas Vindas quando entrou no meu mundo impenetrável.
Agradecido pela sua solidariedade e companhia nas tardes banhadas a bolo de cenoura.
Passei então a querer a sua companhia do que a de qualquer outra criança da minha idade.
Estar nos lugares onde você estava.
Tentar ensaiar algum dialogo que nunca existiu.
Mas você despertou essa vontade de comunicação para estabelecer laços firmes.
Me colocava no colo e ali ficaria a tarde inteira se assim fosse preciso.
Você e eu no meu universo impenetrável.
Um bolo de cenoura por favor?
E o silêncio falaria por nós.
O tempo passou e a falta de dialogo não estabeleceu os tais laços.
Ninguém mais entrou no meu universo, ninguém me coube tão bem quanto você.
Cresci, aprendi olhar pro céu, nem encaro mais o chão.
Olhares não me perturbam tanto, e  as palavras?
Estou aprendendo a lidar com elas.
Tenho páginas e páginas guardadas com tudo que quero lhe dizer.
Eis que surge o reencontro, há dialogo e estamos estabelecendo laços firmes.
Te mostro tudo que encontro de mais belo, e compatibilidade entre nós estão surgindo.
Meu universo impenetrável mudou de nome, virou meu infinito particular,
Onde você também entrou, não pulou os muros.
Entrou pela porta da frente, e no meu universo você cabe tão bem.
Um dia a gente se encontra de fato,haverá pele,contato.
Te levo pra tomar um café, peço um bolo de cenoura e você me explica:
Como pode ser tão diferente dos demais?
E o que o tempo nos tornou, falam por nós.

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