sábado, 11 de junho de 2011

Caixinha de Lembranças

  Ontem eu te vi, não foi do jeito que esperei,
da forma que sonhei, conforme o planejado, mas nada disso importa agora, tudo se torna mínimo e insignificante, porque ontem, eu te vi, fui tomada por uma alegria sem tamanho, fiquei por alguns estantes em total êxtase, quis sair por ai, transbordando de tanta alegria, ultrapassando limites, saindo de órbita, criando o meu próprio carnaval, era muita felicidade para pouco espaço, quis gritar...
Foi o motivo que precisava para recorrer a velhas lembranças, cheguei em casa,entrei no quarto, abri o armário e peguei uma caixinha onde guardo tudo que julgo ser importante,e a primeira coisa que encontrei foi a sua foto,aquela que roubei ainda na infância e guardei com muito zelo,pois tive medo que o tempo me fizesse esquecer do seu sorriso,sei que isso é pouco provável,mas guardei por medidas de segurança,não queria correr o risco de te esquecer,nessa caixinha também guardei fotos de amigos,aqueles mais próximos,que nem mesmo o tempo foi capaz de afastar,trechos de musicas,versos dos meus poetas preferidos,ingressos de shows,uma palheta do Anitelli,lembretes de momentos felizes,fragmentos de épocas inesquecíveis,prova de marcas deixadas por mim na vida das pessoas,e as marcas delas deixadas em mim,coisas como essas serve para nos arrancar sorrisos,remeter a sentimento adormecidos,para lembrar o quanto que fomos ou ainda somos importantes na vida de alguém.Mas você era presença constante nesses fragmentos pessoais,era presente nas inúmeras cartas que escrevi e nunca enviei,onde que nelas estabelecia conversas demoradas,contava sobre o meu dia,e o que nele me fez lembrar de você,falava sobre os livros que eu lia,os autores que descobria e sobre as musicas que conhecia e me apaixonava todos os dias,também havia lembretes do dia do seu aniversário e tudo que queria lhe dizer nesta data,e versos..muitos versos escritos por mim onde que declarava abertamente coisas que nunca disse a ninguém,e tudo isso foi ficando ali,sendo acumulado com o passar do tempo,assim como o meu amor,empoeirado pela falta de uso,mas quando tiramos o excesso de tempo e voltamos os olhos para tudo aquilo,nos deparamos com a riqueza que há ali.
Mas ontem, quando te vi, tudo isso veio à tona, percebi o quanto você mudou... Eu mudei, nós não somos os mesmos faz tempo, e percebi o tamanho do abismo que o tempo construiu entre nós, e quando me dei conta, já não fazia parte dos seus planos, nem mesmo da sua lista de amigos, passamos todos esses anos caminhando em vias opostas de uma mesma estrada, sem desfrutar da paisagem em nossa volta, nem ao menos olhar pra trás e ver a estrada percorrida sob nossos pés, agora, tento entender em que parte dessa estrada eu fui te perder?O que deixei de fazer para sua sombra sair do lado da minha?Como fui te perder de vista se meus olhos não faziam outra coisa a não ser te olhar?E a falta de respostas para tantas perguntas parece me sufocar, e eu ali, submersa, entre o passado das minhas lembranças e o presente de ter te visto, conclui que o ontem e o hoje são separados por uma linha quase invisível, são coisas quase indivisíveis, isso soa tão perfeito, acho a contradição incrível, é o que une coisas opostas, concilia o inconciliável,assim como nós,um exemplo de contradição, isso deve explicar o porquê do meu encanto.
Mas ontem eu te vi, e nada desvia meu pensamento desse fato, você me parecia tão feliz, e isso me deixou feliz também, continua com a mesma beleza, mesmo encanto, mesmo olhar, continua a mexer comigo, me fazendo sentir em queda livre e estado de inércia ao mesmo tempo, contraditório?Sim, pois é o que une coisas opostas como nós. Pena não poder guardar este momento na minha caixinha de lembranças, não que eu venha esquecer, mas por medidas de segurança, para poder recorrer quando te ver novamente, ou quando a saudade bater em minha porta,porque além da contradição,também gosto de tornar palpável momentos que pra mim serão inesquecíveis, para guardá-los na minha caixinha de lembranças,mas só por segurança...só para ter em  que recorrer.

...Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
E desconcertante
Rever o grande amor...
(Anos Dourados - Tom Jobim/Chico Buarque)

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