domingo, 14 de agosto de 2011

Enquanto todos dormem...


_ Entra, eu te faço um café,
Enquanto a gente conversa.

A proposta parecia ser irrecusável,
Pois o relógio marcava 03h48 da manhã,
E o sono insistia em não aparecer para ambas as partes.
O olhar de quem abriu a porta e viu quem os olhos tanto chamavam,
Já era uma obra de arte por si só, personificação da felicidade,
O sorriso denunciava tudo isso.
E quem esperava a porta se abrir não imaginava que já estava dentro daquele coração pulsante, errante, e dele não pediu permissão para entrar,
E era o motivo da ausência do sono naquela e de tantas outras madrugadas.
E o café era mera estratégia já que ele sabia que ela não dispensava uma xícara sequer,
E sabia do efeito da cafeína, e se tudo sair como esperado, a conversa seria longa.

_ Vi as luzes acesas e imaginei que estava sem sono como eu,
Espero não está atrapalhando.

Disse ela em tom de desconcentração, enquanto entrava.

_ Que isso, você nunca atrapalha, acordados enquanto todos dormem,
Vamos nos unir e afastar o tédio das noites de insônia, acabei de passar um café, está do jeito que você gosta.

Ele nem gostava tanto de café, preferia a especiaria acompanhada com leite, aprendeu a gostar só para sentir na garganta o que a fazia sentir prazer, e sabia o ponto certo que ela gostava, essa era sua especialidade, sabia dos teus gostos de cór, passava as madrugadas decorando um por um.
E ao som de Caymmi os dois conversavam, o assunto?
Tanto faz, tudo era pretexto para ele desfrutar da companhia que tanto inspirava,
E cada ameaça de partir ele dizia:
_ Fica mais, o já está quase amanhecendo, e da minha sacada tem uma visão tão bonita do nascer do sol, quero que você veja.

E o que era bonito, nesse momento se tornava questionável, o que não fica bonito ao lado de quem se ama?
O amanhecer era desculpa para aumentar o tempo de uma madrugada de insônia entre um gole e outro de café, quase uma suplica.
Mas o tempo tem dessas coisas, termina com tudo que poderia ser eterno,
Comprovando que o pra sempre, sempre acaba, inevitavelmente,
Ela partiu, sem saber do sentimento que ele carregava junto ao peito,
E o porquê? As razões do amor todos desconhecem, se é que há alguma razão neste tão confuso sentimento.
Mas assim ele permaneceu à espera de mais uma insônia, para que a ele, ela recorresse,
Só assim para as noites se tornarem menos frias, e o café menos amargo e tragável.
Ela passou pela porta, despediu com um sorriso,
E ele ficou observando ela atravessar a rua, desaparecer no horizonte...
E disse em tom de oração, que nem ela ouviu:

_ Até a próxima, enquanto todos dormem, a gente se encontra em um gole e outro de café, você vê o amanhecer na minha sacada, e me perco em você, sem saber.

Onde você vai?
Não é tão simples assim
Porque às vezes
Meu coração não responde
Só se esconde e dói...
Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...
(Não vá ainda - Christian Oyens / Zélia Duncan)


2 comentários:

  1. Solilóquios - ADORO!

    Adorei - perfeito!

    ...com duas pedrinhas de açúcar, rsrs

    Xero...

    Inté.

    K.L.

    ResponderExcluir
  2. Solilóquios as vezes é bom né,também gosto.
    Obrigada,senta ai que estou terminando de passar o café...rsrs

    ResponderExcluir