sábado, 9 de julho de 2011

Reciclar o que não se vê...


Resolvi tirar a poeira de todas as coisas,
Dar uma cara de vida para tudo àquilo que estava intacto há tempos,
Me dei o trabalho de levar coisa por coisa lá pra fora,
Pra pegar um sol, sentir a brisa,
E tive sorte, porque o dia estava lindo,
Céu azul de inverno,
Me parece que as flores também tiraram o dia para se renovar.
Ventava bastante,
O suficiente para afastar todo mofo,
Poeira, maus pensamentos,
Mas se eu tiver sorte mesmo...
Bate um vento bem forte vindo do sul
E trás você pra mim...
Quem sabe?                                        
Devemos ter esperança não é mesmo?
Esperança também foi uma das coisas que levei para tomar um sol,
Não estava empoeirada, mas sim intacta,
Levei só pegar uma cor,
Conhecer o inverno, afinal ela merece,
Pois está em toda parte da casa,
Percebo quando vou à cama e lá encontro um fio,
Na sala encontro outro fio e na cozinha também,
Quando penso no futuro, em segundo plano consigo ver um fio,
E quando vou investigar de onde saiu esse emaranhado de fios,
Percebo que é da Esperança...
Há fios de esperança espalhados por toda casa, em todos os momentos.
Também levei os meus sonhos para o quintal,
Cansei de guardá-los embaixo do travesseiro,
Pendurei no varal para quem passasse pudesse vê-los.
Levei também a raiva, medo, magoa,
E todas aquelas quinquilharias que empurramos pra debaixo do tapete,
Dessas coisas eu me desfiz, deixei a cargo do vento escolher um fim a elas.
Levei todo amor e coloquei na sacada,
Era o que havia em maior quantidade,
Tinha de diversas formas, nobre, infindo e bonito.
Também Levei um exemplar de serie limitada do meu passado,
Raridade, não se produz mais, nem em replica,
Esse sim, estava empoeirado, com mofo,
Foi complicado levá-lo para fora,
Pois era pesado, tinha a forma de um baú,
E continha um grande adesivo vermelho com letras grandes com o seguinte dizer:
CUIDADO! FRAGIL.
E quando abrimos, começa tocar músicas de cada época da minha vida,
Canções de ninar, saltimbancos, Leoni, Marisa Monte...
Enquanto isso podem-se ver claramente os meus primeiros passos,
As pessoas que amei,
Os amigos que cativei,
As lagrimas que derramei,
Os tombos que levei, e as vezes que me levantei,
Fragmentos de mim se encontram naquele baú.
Tudo isso ficou exposto para quem quisesse ver,
Todos assistiram de camarote meu processo de renovação,
Meu dia de limpeza,
Aconselho a todos experimentar tirar a poeira de todas as coisas de vez enquanto,
Deixar o sol entrar, se desfazer das mazelas,
Zelar pelas tuas riquezas,
Exercer o processo humano de reciclar o que não se vê,
O que não é palpável.              

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