sexta-feira, 16 de setembro de 2011

De alma aberta...

Todos os dias de manhã o mundo acorda,
E vai a luta pela sobrevivência.
Uns atrás do pão, outros do teto,
Alguns se contentam com o chão.
A mãe leva o filho na escola,
O pai põe a marmita na sacola,
E o mais novo faz da meia uma bola,
Pois sonha em ser atacante.
Sonho?Nesses terrenos é o fertilizante para sobrevivência.
E todos seguem sua rotina particular,
Algumas maçantes outras nem tanto,
E eu sigo a minha,
E nessas minhas andanças, me arrisco a observar,
E algo todas as manhãs invade minha janela,
Invade minha retina, e acaricia minha íris:
No sinal uma mulher que no vende doces!
Normal?
Sim, se não fosse a leveza de sua autenticidade...
Ela não faz malabarismo enquanto vende,
E nem faz números circense cuspindo fogo,
O que encanta é que ela simplesmente sorri!
Mas não é um sorriso automático qualquer,
Ela sorri como se todos que cruzassem seu caminho
Fossem velhos amigos que ela não via há anos,
Sabe aqueles sorrisos que mostra os dentes e a alma e ainda convida pra entrar?
É assim que ela passava por entre os carros, sorria para cada olhar por de trás do vidro,
Independente se comprasse as balas ou não, o sorriso era cortesia da casa,
Seu slogan deveria ser:
“Compre uma bala e adoce o dia, leve o meu sorriso e carregue por toda vida”.
Um dia de transito lento pude observá-la minuciosamente,
Quando o sinal estava verde, sua fisionomia se misturava com a normalidade da multidão,
Quando ficava laranjado, ela olhava fixamente,
Respirava fundo, e ensaiava um falso passo,
Mas quando o sinal ficava vermelho,
Era como se a vida dissesse:
_Vai... dá seu show.
Associei essa cena como se fosse um teatro, e o artista a espera do terceiro sinal para entrar para fazer seu show, as cortinas se abrem e a alma convida a platéia para entrar,
Momento sublime e único, onde que a essência humana sofre uma fratura exposta e permite ser desbravada em publico sem nenhum ressentimento.
Mas naquele momento os três sinais eram mudos, em meio ao estardalhaço do transito,
O show era minuciosamente contado e corrido, apresentado para uma platéia dispersa, ela mesma fazia o cenário da sua peça existencial, posicionando as balas estrategicamente em cada retrovisor,
Retrovisor?
Será que isso não a estigava a olhar pra trás e ver seu tempo de meninice, quando as balas não era seu ganha pão,era prenda em quermesses, desejo que apetece nas horas de diversão.
Ou não, talvez desde cedo teve que aprender a lutar pelo amanhã,
Com isso aprendeu a rir da vida, ninguém abriu as portas, e para contrariar, hoje ela abre a alma, é a dificuldade servida em bandeja de ouro.
Depois voltava em disparada recolhendo pacote por pacote novamente, alguns compravam, outros sequer olhava, o sinal abria e ela saia de cena...Sem palmas,
A calçada à esperava, o sorriso apagava, apenas no instante em que o sinal estivesse verde,
E ela esperava o terceiro sinal inaudível para dar seu show e  abrir a alma para que quem observasse pudesse entrar.

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