segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pluralidade Singular...

Sabe o que me encanta?
É o plural colocado na individualidade,
Ou a individualidade na pluralidade?
Não sei, mas gosto da essência das palavras terminadas em “S”.
Consigo ver indícios claros de generosidade,
Artigo em falta nos dias de hoje,
Portanto,quando ouço, chega me causar arrepios,
Cresce em mim um sentimento de admiração por quem diz,
Mesmo que eu não conheça.
Sentimento de coletividade é uma virtude nobre que me enche os olhos.
Certo dia estava andando e ouvindo a conversa de desconhecidos na rua como tenho o costume de fazer,
Um rapaz apontando para uma escultura e dirigindo a palavra para a possível criadora:
_Você que fez?
Sutilmente a moça respondeu com um sorrido consertando a colocação do rapaz,
Que certamente nem percebeu a riqueza de generosidade da resposta:
_Nós fizemos!
E tudo que ela respondia, sempre era no plural,
Suas frases eram cheias de “nosso” ”a gente” “somos”
Pude sentir a presença de todas as pessoas envolvidas naquela criação,
Sem ao menos conhecer e imaginar os seus rostos,
E o processo de criação daquelas esculturas,
Pois todos estavam dignamente representados pelos “S” das frases daquela artista,
Sua generosidade só aumentava a beleza de suas criações,
A vontade que tive era de interromper o dialogo e dizer:
_Com licença, desculpe interromper, mas é que não entendo nada de arte,
 Mas tenho uma leve lembrança do que seja generosidade, pois nos tempos de hoje é tão raro, que às vezes até esquecemos o que seja, mas você me fez relembrar do que fatalmente se perdeu no tempo, admirei sua sensibilidade passado pelo seu ateliê e vendo suas obras,mas elas se tornam mais encantadoras depois que ouvi suas frases nos plural, representado todas as pessoas que devem ter contribuído para criação de tudo isso,reforçando o que aprendemos na infância:
”ninguém faz nada sozinho”
Parabéns pela sua sensibilidade acompanhada da pluralidade da sua generosidade.
Infelizmente me contive e não disse nada disso, apenas segui em frente aparentando minha falsa normalidade, mas aquilo ficou martelando,
E percebi o quanto é fácil ser grato e generoso em um discurso de recebimento de um prêmio,
fazendo uma lista de pessoas do qual contribuiu para aquela conquista,
Isso é fácil e previsível,
O difícil é ser grato no cotidiano, no anonimato,
Respondendo uma pergunta singular no plural.
Aquela artista não estava expondo em seu ateliê apenas sua arte,
Mas também sua essência humana tão rara nos dias de hoje,
Pena que essa arte poucos conseguem ver.
Finalizo declarando minha admiração pela pluralidade,
Pelos “S” das frases e por aquela artista que me fez perceber tudo isso,
Sem ao menos me dirigir a palavra.

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